VIDE: UNIVERSO
No alto, está o Céu. Ele marca o ritmo das estações, que voltam ciclicamente; no que diz respeito a isso, sua natureza é circular. Ele é redondo e sua cor é azul.
Embaixo, está a Terra. É o lugar sobre o qual repousam os pés, que caminham nas quatro direções. Ela é quadrada e sua cor é amarela. (No Ocidente, zombou-se durante muito tempo daqueles excêntricos que acreditavam que a Terra pudesse ser quadrada! Tal fato constitui um erro de julgamento e os chineses o provam: o "princípio" terrestre depende de um quaternário.)
No centro, está o homem, intermediário entre o Céu e a Terra, com a sua consciência.
Esta é a trindade constante no espírito chinês: Céu, Homem e Terra (conceito que se encontra confirmado nos textos sagrados de todas as religiões e de todas as crenças). Utilizando-se uma linguagem mais familiar, seria possível substituir os termos "Céu", 'Terra" e "Homem" pelos seguintes termos, respectivamente: História, Geografia e Ação. O Tempo, o Espaço e o Movimento. O homem intermediário é sempre subentendido enquanto observador.
Antigamente, as transações eram efetuadas com peças circulares — cujo centro vazado era quadrado — que serviam de moeda. Elas chegavam a atingir grandes dimensões e eram penduradas no pescoço. As trocas (movimento) eram, dessa forma, colocadas sob a dupla proteção do Céu e da Terra. É evidente que a marcha do tempo se distingue através de divisões sobre o círculo, e que o quadrado do espaço se subdivide em outros quadrados que, por sua vez, formam setores. Para além da Terra, estão situadas regiões indefinidas denominadas os "Quatro Mares", onde residem animais míticos: ao norte, a serpente e a tartaruga, consideradas rastejantes; ao sul, o fênix que voa; a oeste, o tigre que caminha e, a leste, o dragão, com suas escamas de peixe, que nada.
O Universo assim constituído é a representação mais frequente. Existe a esse respeito uma lenda — a de Pan-ku — que não é desprovida de interesse.
O OVO DE PAN-KU
No início, o Universo era simbolizado por um ovo, que um dia eclodiu e deu origem a um homem chamado Pan-ku. No decorrer dos séculos, Pan-ku cresceu, e o fez tanto e tão bem que a metade da casca situada acima de sua cabeça formou o Céu e a segunda metade, abaixo dele, se transformou na Terra. Ele viveu 18.000 anos. Por ocasião de sua morte, seu cadáver se repartiu pela Natureza, constituindo o Universo visível e seus elementos. Sua cabeça se tomou o Sol e a Lua, seu hálito, o vento, sua transpiração, a chuva, e sua voz, o trovão. Seu sangue se transformou em oceanos e em rios e as montanhas foram compostas a partir de seus membros. Por último, as pulgas que cobriam o seu corpo tomaram a forma de ancestrais da humanidade.
Esse tema pode ser reencontrado com algumas variantes.
Tendo o Céu a forma de um ovo, a Terra representa, em relação a ele, a gema cercada de líquido. A casca, girando sobre si mesma como uma roda, traz com ela o Sol, suscitando a alternância do dia e da noite. A gema flutua e se desloca lateralmente, provocando a sucessão das estações.
A Terra — amarela, quadrada e cercada por oceanos — está muito próxima da gema do ovo, rodeada de líquido. O ponto comum das duas descrições do Universo continua sendo a oposição complementar do Céu e da Terra, que se distinguem em termos de suas funções espaço-temporais, mas que não podem ser separados. Se o Céu está no alto e a Terra está embaixo, a dominação celeste é completada pela noção de ambiente: a gema está no interior da casca, assim como o quadrado se encontra no centro do círculo.